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Mostrando postagens de julho, 2021

Linhas fracas

  Ontem não escrevi. Estava ocupado morrendo de dor nas costas. E não sei se hoje compensarei. Mas sei que já escrevo. Quase sem palavras. Mas algumas coisas foram percebidas e vivenciadas sim nos últimos dias. Dias sociais demais, aliás. Até me lembrei que tenho um certo ponto na sociabilidade, um ponto final, de apatia e cansaço, distanciamento e frieza. Um ponto em que o assunto acaba mas o papo não. Eu fico gélido, tão frio como o momento atual. Observando, esperando alguma brecha pra dizer adeus ou até a próxima. Não que eu perca o interesse em conversar, muito menos que as pessoas fiquem chatas. Eu só chego a um limite estranho. Ontem conheci um cara muito engraçado no Facebook. Não engraçado por querer ser, óbvio. Mas era risível sua visão das coisas. Não tinha prioridades sérias. Reclamava que as pessoas o adicionavam sem querer conversar. Imagina, como se a solicitação fosse intimação. Como se não desse pra mandar umas cinco mil dessas em um dia. ...

Esper-ânsia

  Esperança vicia. É o que mais tenho visto nesta pandemia: Na esperança de um amanhã glorioso, as pessoas não valorizam o hoje. Não que hoje tenha muita coisa que valha a pena ser vivida. É morte e escândalo todo dia. Mas… O que diabos estou escrevendo? Dizem por aí que existem dois tipos de ansiosos: Os presos ao futuro, e os presos ao passado. O bom seria focar no presente. Certa vez li uma frase, não lembro de quem: Só se prenda ao que te liberta. É como eu aconselhava quem passasse por impasses de novela: Se tens dois lados que podes seguir, e um deles pede para escolher (ou ele ou eu), vá para o lado que não te pediu para escolher. Não que escolhas e pedidos de escolhas aconteçam de forma assim tão explícita na vida real. Eu mesmo nunca fiz o que prego. É difícil resistir a pressão. É fácil se acomodar. É cômodo escapar pelas beiradas. É um jogo de palavras engraçado: Presos e presente. É possível se prender ao presente? Viver tanto o aqui e agora que… Esquece. Onte...

A magia do afeto

  Apesar da diferença sempre ter sido a minha marca, em algum lugar na comunicação e socialização encontro a semelhança. E ela é em parte responsável pela minha sobrevivência. Se penso em alguns motivos para não morrer, formalmente falarei em sorvetes, brigadeiros, cachorros quentes e hambúrgueres. Pessoalmente, intimamente, nos profundos de meu coração, eu sei a verdade. Sobrevivo para poder te ver de novo. Quem é esse “te”, nem sei. Ou sei mas escondo. Pode ser você lendo isso. Pode ser você que nunca vai ler. O fato é que sempre tem alguém, não à espera, nem com alguma função específica. Mas alguém que brilha, que marca, que penetra minha alma e cochicha no meu ouvido mesmo em silêncio. Alguém que com olhos, boca e nariz me faz sentir parte de algo. Mesmo que esse algo seja apenas uma solidão a dois. Pode ser alguém no horizonte, sentado no banco de um parque. Ou alguém ali na esquina, esperando um ponto de ônibus. Quem sabe alguém que mora comigo. Talvez alguém com quem j...

Mal posso acreditar que estou escrevendo de novo

       Mal posso acreditar que estou escrevendo de novo.      Condenei-me ao silêncio por motivos fortes, depois de diversas tentativas frustradas de terapia. Falar sobre o que sinto sempre me pareceu alimentar mais e mais os maus sentimentos. Dar força ao que se pretendia calar. Então optei por outra estratégia. Isolamento. E funcionou enquanto pude sustentar. Mas a cauda do calango cresce toda vez que é cortada. Se hoje retomo este mau hábito, é por ter minado toda chance de apoio. Estourado todo e qualquer refúgio. Brincado com todas as estratégias. Preciso retornar ao básico. Eu e meus cadernos. Agora, eu e este documento aberto no computador, conectado a uma nuvem de dados da minha pessoa. Da pessoa que crio todos os dias para mim. Para sustentar o insustentável: A vida do que já está morto. Sim, este sentimento eu nunca consegui matar em mim. Deitei na minha cama hoje, por volta das quatro ou cinco da tarde, deitei-me como deitava-me no hospi...