A magia do afeto
Apesar da diferença sempre ter sido a minha marca, em algum lugar na comunicação e socialização encontro a semelhança. E ela é em parte responsável pela minha sobrevivência. Se penso em alguns motivos para não morrer, formalmente falarei em sorvetes, brigadeiros, cachorros quentes e hambúrgueres. Pessoalmente, intimamente, nos profundos de meu coração, eu sei a verdade. Sobrevivo para poder te ver de novo.
Quem é esse “te”, nem sei. Ou sei mas escondo. Pode ser você lendo isso. Pode ser você que nunca vai ler. O fato é que sempre tem alguém, não à espera, nem com alguma função específica. Mas alguém que brilha, que marca, que penetra minha alma e cochicha no meu ouvido mesmo em silêncio. Alguém que com olhos, boca e nariz me faz sentir parte de algo. Mesmo que esse algo seja apenas uma solidão a dois.
Pode ser alguém no horizonte, sentado no banco de um parque. Ou alguém ali na esquina, esperando um ponto de ônibus. Quem sabe alguém que mora comigo. Talvez alguém com quem já quis morar. Provável que eu tenha dormido em sua casa. Capaz que a única referência seja um sorriso sem jeito. Mas as pessoas têm essa importância na minha vida, elas me dão gás para viver. Vontade, gosto, planos. Paciência e perseverança.
Tem de se ter muita parcimônia para lidar com as pessoas. Humanos são complicados, é parte da coisa do ser humano. Não que outros seres e coisas não sejam. Mas o amor da coisa é um vazio a ser preenchido. O amor do ser é um preenchido a ser esvaziado. Não sei se o que faço é me explicar ou me confundir, mas preciso fazer.
Ontem escrevi sobre me sentir morto.
Sobre uma falta em mim que não tem nome.
Uma sensação que me assombra.
Um medo que me corrói.
Uma diferença que me marca.
Escrevi sobre meus vinte e sete anos de vida como alguém que se lamenta.
E de fato lamento.
Não pude amar como queria.
O amor entrou na minha vida como um estranho amigável. Me chamou, me ofereceu doces, me levou pra conhecer os arredores. Se despiu na minha frente e me assustou. Eu não queria me despir. Tirei as poucas peças de roupa que ainda conseguia sem me sentir desconfortável. E vomitei. Vomitei injúrias, impropérios, desnorteamentos e confusões. Estampei na cara do amor meu medo de amar. Estampei como uma vontade. Confundi o amor e o afastei. Tudo isso estando muito confuso.
É torto o jeito que as pessoas amam, ou é torto meu jeito de amar.
Afeto físico nem sempre é o meu lance, e quando é, é estranho.
Outras formas de afeto não se revelam completamente para mim.
Não sei traduzir um olhar, às vezes nem mesmo entendo uma fala.
Eu sei, faço de tudo para parecer meio perdido. É que estou. Sou.
Talvez o mundo não seja tão complicado. Talvez seja só… Eu.
Comentários
Postar um comentário